Tomás Antônio Gonzaga, o Inconfidente Mascarado
Uma historia do livro "História jamais contadas da literatura brasileira"
Bufando e resfolegando, o cobrador de impostos de Portugal subiu correndo a íngreme ladeira de Vila Rica. Desesperado, ele olhava toda hora para trás para ver se não estava sendo seguido. Quando viu o Aleijadinho, era tarde demais. Ele tropeçou no escultor que fazia um santo em pedra-sabão e saiu ralando nas pedras do calçamento.
“Desculpa, Aleijadinho...”, ele disse, enquanto se levantava.
“Aleijadinho é o caralho, meu nome é Antônio Francisco Lisboa!”, gritou o aleijadinho, enquanto o cobrador de impostos corria para se esconder atrás de uma igreja barroca. Ele finalmente respirou aliviado. O maldito justiceiro mascarado não o alcançara! O homem limpou o suor do rosto com um lenço encardido e começou a tirar as pepitas de ouro da bolsa de pano. Eram pedras grandes, bonitas, vistosas. Foi então que saltou na frente dele uma figura mascarada vestindo uma longa capa negra e com uma espada nas mãos.
“Oh, não...”, gemeu o cobrador de impostos. “Estou perdido! É o Inconfidente Mascarado!”
O Inconfidente Mascarado encostou a espada no peito do agente da coroa portuguesa e disse: “Perdeu, playboy desprezível! Pode passar pra cá o ouro que pertence ao bom povo do Brasil e não ao rei de Portugal!”
O herói agarrou a bolsa com as pepitas e, antes de desaparecer na noite de Vila Rica, ainda desenhou com a espada um portentoso “T” na testa do português salafrário.
De volta à sua casa, o Inconfidente Mascarado tirou a máscara e a capa para revelar sua verdadeira identidade... o poeta Tomás Antônio Gonzaga!
Ele se sentou à escrivaninha, tomou a pena e, para relaxar, começou a escrever um lindo poema de amor.
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro
Que viva de guardar alheio o gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro
Dos frios gelos, e dos sóis queimado...”
Foi quando ouviu batidas fortes na porta. Era a feroz guarda colonial portuguesa, liderada pelo odioso e adiposo sargento Garcia.
“Você está preso, Inconfidente Mascarado!”, disse o portuga.
“Eu?!”, desmunhecou Tomás Antônio Gonzaga. “Eu sou apenas um pobre poeta arcadista, não me meto com coisa de política...”
Sargento Garcia sorriu com ar de superioridade.
“Ora, nós vimos o Inconfidente Mascarado vir nessa direção. E além disso você se entregou ao marcar a testa do pobre cobrador de impostos com um ‘T’!”
Tomás Antônio Gonzaga engoliu em seco. Sargento Garcia percebeu o embaraço do poeta e continuou: “Sim, rufião maldito! Um ‘T’ de Tomás Antônio Gonzaga! Dessa vez você não escapa! Ou vai ter coragem de dizer que o ‘T’ não é de Tomás?!”
Foi nesse momento que a inspiração salvadora socorreu o pobre poeta.
“Ai, sargento, para com isso. É ‘T’de ‘Tiradentes’, oh pá!”, respondeu Tomás. “Você sabe muito bem que dentista não vale nada...”
Leve “Histórias jamais contadas da literatura brasileira” para o aconchego do seu lar
Gentil leitora e portentoso leitor, o texto acima é parte de uma pequena pérola das letras pátrias chamada “Histórias jamais contadas da literatura brasileira”.
O livro, de autoria do glorioso Edson Aran, vem com palavras e desenhos do próprio autor e apresenta momentos inusitados e claramente inventados da literatura desse nosso mulato inzoneiro, do princípio ao fim, qual seja, do Pero Vaz de Caminha ao Bráulio Bessa.
Lançado no verão de 2011 pela renomada Revista Bula, o tomo foi agraciado com uma indicação ao cobiçado Prêmio Jabuti na disputada categoria Crônicas.
Há duas maneiras de obter esse prodigioso volume que enriquecerá sobremaneira sua miserável biblioteca. A primeira é comprá-lo na Livraria da Travessa, a mais bonita loja de alfarrábios deste Brasil brasileiro.
A outra maneira é adquirir diretamente do autor, que enviará o livro autografado pelo correio pela módica quantia de 70 (setenta) reais, preço muito mais em conta do que um vinho ordinário (e certamente muito mais prazeroso).
Envie sua adorável mensagem para edsonaran@gmail.com e acerte os detalhes diretamente com este novo Machado de Assis.