O EGO, esse pequeno argentino que vive em cada um de nós
Da série "O livro jamais escrito das criaturas abomináveis"
Muitos e variados são os formatos do EGO.
Pequeno ou gigantesco, acanhado ou exibido, o EGO sempre surpreende. É ele que faz um cantor sertanejo pensar na presidência, um influencer acreditar que é sociólogo e um colunista achar que é o Sócrates. Mas não o filósofo, aquele outro.
O EGO engana.
Às vezes, ele parece uma coisinha ridícula, diminuta e acanhada. Mas é só fazer um carinho, mandar um elogio, dar um beijinho para que o EGO atinja proporções xandônicas.
Outras vezes, o EGO se mostra colossal, um Atlas, um Golias, mas basta uma crítica, uma resenha negativa, uma frase irônica que ele se encolhe no canto, tremendo de medo.
O EGO é lisérgico. Não há bebida que embriague mais. Não há droga que iluda mais. Não há Universo Marvel que promova fuga maior da realidade.
O EGO vive em outro mundo. O EGO está noutras. O EGO está sempre na dele.
O EGO embaça a visão e provoca surdez. O EGO só não pratica a mudez. O EGO fala pelos cotovelos. Sempre sobre si mesmo e em forma de monólogo. E, mesmo que alguém se atreva a iniciar um diálogo, o EGO pergunta, como quem não quer nada: "Muito bem, agora vamos falar de mim…"
O EGO promete mais do que cumpre, elabora mais do que entrega, desaponta mais do que espanta. Por conta disso, o EGO, falseia, conspira e trapaceia. O EGO mente descaradamente, solenemente e implacavelmente, especialmente para ele mesmo.
O EGO só não se mete a besta com gente que é maior do que ele. O grande medo do EGO é ser pisoteado por outro EGO ainda mais imponente. Quando isso acontece, o EGO dá no pé e vai pedir ajuda pro SUPEREGO que, irritado, enche o pentelho de cascudos.
Bem feito pro EGO.
Como vencer o ódio
Fique esperando o ódio na esquina com um porrete na mão. Quando ele passar, desça o cacete no ódio.
Convide o ódio para almoçar no restaurante mais caro da cidade. Cancele o compromisso, dois minutos antes, quando o ódio já tiver pedido mesa e estiver olhando o cardápio.
Aposte uma corrida com o ódio, se esconda atrás de uma árvore e chame um moto-táxi.
Ligue para a casa do ódio às duas da manhã, diga que é da segurança do Bradesco e que a conta dele acaba de ter um saque de 3.785 reais e 89 centavos.
Só chame o ódio de “raivinha” e “fúriazinha”. Ele vai morrer de ódio.