O guia esnobe do cool
Tudo o que importa para que você nunca mais tenha que se importar
Existiu um tempo em que cool era ser cool.
Foi um momento histórico e menos histérico quando as pessoas não saíam por aí berrando, uivando e gritando. E julgando, condenando e cancelando. E marchando, golpeando e roubando. E tuitando, instragramando e tik-tokando.
Todos nós precisamos esfriar a cabeça, ficar cool, mas pra isso é preciso sacar o conceito, compreendes?
Cool é uma espécie de nonchalance, um je-ne-sais-quoi meio blasé, que é quase tô-nem-aí. É isso aí.
Tranquilo e infalível como Bruce Lee. Desencanada e impassível como Rita Lee. Preciso e inflexível como Angeli.
Quem é cool não se importa se escreve metade de uma frase em outra língua, lista nomes sem explicar o porquê e se liga mais na cadência do que na coerência.
O filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007) define cool como uma representação eletrônica e fria, distante do objeto real, que seria “quente”.
Como todo filósofo francês, o cara tenta ser profundo e pop ao mesmo tempo, mas não entende nada de cool. Cool é João Gilberto, Frank Sinatra, Dean Martin, Marvin Gaye, Thelonious Monk, Tim Maia, Cassiano, a Lua e Eu, entendeu? Nem eu.
Cool é uma soma de estilo e atitude que não se esforça para agradar e que, exatamente por causa disso, é invejado e imitado.
Cool é uma combinação de estilo, atitude, estética, comportamento e aparência, somada ao zeitgeist, expressão alemã que se traduz como “o espírito do tempo”. Isso significa que o cool de hoje pode ser o uncool amanhã. Mas a contrapartida também é verdadeira. Ninguém consegue ser hot por muito tempo, mas é possível ser cool uma vida inteira.
Para exibir essa atitude fria e indiferente é essencial ser quente e irreverente - mas sem se queimar, coisa cada vez mais difícil num mundo em ebulição e cheio de paixões incendiárias.
Em resumo, querida leitora e estimado leitor, cool é bom e é gostoso, mas watch your back: quem é cool tem medo.
(Este texto é um remix de uma pensata publicada originalmente na velha “Playboy” com uma coluna de humor feita pro site “Culturize-se”)
A primeira ilustração tem um quê de Saul Steinberg.
kkkclapclapclap!